Educação
literária — Amor de Perdição: Resumo
por capítulos
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Assumindo-se
como contador de uma história real, cuja veracidade é atestada em fontes
(«livros de antigos assentamentos»), o narrador aproxima-se do historiador.
Camilo Castelo Branco.
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Capítulo 1
Em
1779, Domingos Botelho, fidalgo de Vila Real de Trás-os-Montes que exercia a
função de juiz de fora em Cascais, casa com D. Rita Preciosa, uma dama do paço
que era «uma formosura». Em 1784, quando nasce Simão, o penúltimo dos filhos (o
casal teve dois filhos e três meninas: Manuel, Simão, Maria, Ana e Rita),
Domingos Botelho consegue transferência para Vila Real, sua «ambição suprema».
Aí, são recebidos pela nobreza da vila. D. Rita estranha o atraso das gentes,
respondendo com altivez à cordialidade; também desdenha das comodidades. É
construída uma nova casa. Apesar de não ter razão, Domingos Botelho sofre com
os ciúmes, temendo não conseguir preencher o coração de sua mulher e porque se
considera muito feio (comparando-se, mitologicamente, a Vulcano casado com
Vénus). Em 1790, consegue transferência para Lamego, o que muito desagrada a D.
Rita.
Em 1801,
Domingos Botelho exerce funções de corregedor em Viseu. Manuel, o filho mais
velho, e Simão estudam em Coimbra (o «segundo ano jurídico» e Humanidades,
respetivamente), enquanto as meninas preenchem a vida de D. Rita. Manuel
escreve ao pai queixando-se do «génio sanguinário» do irmão (este comprava
pistolas, convivia com perturbadores, insultava os habitantes e incitava-os a
lutarem com ele). Domingos Botelho admira a bravura do filho, mas Manuel
insiste nas suas queixas e pede mesmo para seguir outro rumo. Com esse
objetivo, vai para Bragança para se tornar cadete. Simão, por sua vez, passa
nos exames, sendo perdoado pelo seu comportamento.
Aos poucos,
D. Rita passa a ter desgosto por ter um filho como Simão. Este tem amigos e
companheiros que a família não aprova (escolhendo-os na plebe de Viseu),
escarnece das genealogias e faz com que as irmãs mais velhas o temam. Também
Domingos sente aversão por Simão.
Quando estão
a terminar as férias, um dos criados de Domingos Botelho quebra, por acidente,
umas vasilhas, enquanto dá de beber a um macho, sendo espancado pelos aguadeiros.
Simão, que por ali passa, toma o partido do criado e acaba por partir «muitas
cabeças». Após a queixa dos feridos, Simão foge para Coimbra, com o dinheiro da
mãe, ficando a aguardar o perdão do pai. O corregedor desiste de deter o filho.
Capítulo 2
Em Coimbra,
Simão permanece convencido da sua valentia, deliciando-se com as memórias do
espancamento, que o incitam a novos atos. O ambiente que encontra na Universidade
é propício à exaltação. Contaminado pelo espírito revolucionário, defende um
«batismo de sangue». Torna-se jacobino e um apologista da ideia regicida.
Devido às
suas ideias, é preso, mas consegue sair do cárcere académico por ingerência da
família. Perde o ano letivo e vai para Viseu. Aí, a sua personalidade sofre uma
mudança considerável, tendo na sua origem o facto de Simão estar apaixonado
pela sua vizinha («Simão Botelho amava»). Ele tem 17 anos; ela, 15. A separar
as duas famílias existe um ódio antigo, o qual teve na sua origem questões de
justiça (o facto de Domingos Botelho ter decidido contra os Albuquerque). Os
dois apaixonados fazem planos.
Na véspera
de Simão partir para Coimbra, Teresa é arrancada da janela. Simão ouve os
gemidos da amada e sofre devido à sua impotência. Antes de partir, opção que
considera melhor para si e para Teresa, recebe dela um bilhete. Diz-lhe que o
pai ameaçara encerrá-la num convento, por causa dele, e pede-lhe que vá para
Coimbra.
Simão
torna-se estudante exemplar e vai escrevendo a Teresa, que, entretanto, deixa
de temer o convento. Manuel Botelho regressa à universidade e estranha o irmão,
quieto e «alheado».
Em fevereiro
de 1803, Simão recebe uma carta surpreendente de Teresa.
Capítulo 3
Teresa e
Rita, a irmã predileta de Simão, trocam olhares à janela. Vão falando, e Teresa
chega a revelar o seu amor por Simão, pedindo-lhe que guarde segredo. A
cumplicidade é descoberta, causando a ira de Domingos Botelho.
Tadeu de
Albuquerque planeia casar Teresa com o primo, Baltasar Coutinho, crendo que,
com a sua brandura, a filha esquecerá Simão. Mas, no diálogo com Baltasar,
Teresa recusa a união. Dada a assertividade de Teresa, o primo diz-lhe que fará
tudo para a salvar das «garras» de Simão.
Tadeu de
Albuquerque decide fazer entrar Teresa num convento, dizendo-lhe que a considera
morta. Teresa promete julgar-se «morta para todos os homens, menos para seu
pai».
Capítulo 4
O capítulo
abre com uma caracterização de Teresa, a partir do diálogo com Baltasar
Coutinho, destacando o narrador que ela é uma mulher de «orgulho fortalecido
pelo amor». Por carta, Teresa relata o sucedido a Simão, omitindo apenas as
ameaças do primo.
A vida de
Teresa parece regressar à normalidade (não entrara no convento, não se falava
em casamento e Baltasar Coutinho estava ausente), até ao momento em que o pai
lhe diz que, nesse dia, ela deve casar com Baltasar. Teresa responde
descrevendo aquilo que lhe é pedido como um sacrifício e afirmando que odeia o
primo. Tadeu amaldiçoa a filha e diz-lhe que ela morrerá num convento. Ao
sobrinho Baltasar, diz que não lhe pode dar a mão de Teresa porque já não tem
filha. Teresa acaba por não ser enviada para um convento, segundo o conselho do
primo, e escreve uma carta a Simão contando-lhe o sucedido. Simão fica fora de
si e planeia matar Baltasar, mas abandona esta ideia ao perceber que essa ação
o afastaria de Teresa para Sempre.
O estudante
resolve ir a Viseu para ver a filha de Tadeu. Como precisa de um sítio seguro onde
ficar, o arrieiro recomenda-lhe a casa de um primo seu, que fica perto de
Viseu. Simão envia uma carta a Teresa e combinam um encontro às onze horas, no
dia do aniversário desta. À hora combinada, Simão fica surpreendido por ouvir
música vinda de uma casa que ele sempre considerara triste e sem vida.
Capítulo 5
Teresa sai
da sala onde se festeja «com estrondo» o seu aniversário. O primo percebe a sua
agitação. Levando uma capa para não ser reconhecida, Teresa é perseguida pelo
primo, mas, assustada, regressa ao baile. Baltasar acaba por ser cruzar com
Simão, que o interroga em tom ameaçador. Percebendo que Simão está armado com
duas pistolas, Baltasar acaba por recuar. Simão só consegue distinguir um
vulto.
Teresa
escreve novamente a Simão e combinam novo encontro para a noite seguinte. Na
casa onde o estudante estava alojado vive Mariana, filha do ferrador. Esta
contempla demoradamente Simão e diz-lhe que adivinha para ele alguma desgraça «por
amor duma fidalga de Viseu». O ferreiro João da Cruz conta a Simão a história
que o fazia «dever um favor» ao corregedor Domingos Botelho (por causa deste, o
ferreiro escapara à forca). O pai de Mariana também conhece Baltasar Coutinho e
conta a Simão que o morgado de Castro Daire lhe pedira que matasse um homem a
troco de dinheiro: esse homem era Simão Botelho. João da Cruz ainda o aconselha
a não ir ver Teresa, mas Simão mantém a sua ideia.
Capítulo 6
Três vultos
estão reunidos, à noite, perto da porta do quintal de Tadeu de Albuquerque. Um
deles é Baltasar Coutinho e prepara, com os seus criados, uma cilada para Simão.
João da Cruz e o cunhado, o arrieiro, executam um plano para ajudar Simão,
conseguindo este estar com Teresa e sair sem ser visto. Depois disto, João da
Cruz diz-lhe para seguir rapidamente para casa, temendo o ataque dos homens de Baltasar,
que estariam escondidos. O ferreiro fica aflito ao perceber que não chegarão ao
local a tempo de proteger Simão de uma emboscada. Este acaba por ser ferido com
um tiro, e os criados de Baltasar Coutinho morrem às mãos de João da Cruz, que receia
deixar testemunhas do sucedido e quer acabar as «obras» que começara. No fim,
perante aquilo que considera crueldade (o facto de o ferreiro ter matado um
homem que estava ferido e tinha implorado pela sua vida), Simão «teve um
instante de horror do homicida».
Capítulo 7
Simão recebe
os curativos do ferrador mas piora dos seus ferimentos. Preocupa-o mais, no
entanto, o facto de não ter novidades de Teresa. Esta envia-lhe uma carta em
que conta o comportamento estranho do pai e do primo e se mostra muito preocupada
por ter ouvido falar na morte dos criados de Baltasar. Simão responde-lhe de
modo a tranquilizá-la. Baltasar e Tadeu de Albuquerque (que fora conivente no
atentado contra a vida de Simão) acabam por não se envolver no assassinato dos
criados, uma vez que não havia provas contra o filho do corregedor.
Tadeu de
Albuquerque toma a decisão de encerrar Teresa num convento do Porto. Assim, até
que toda a documentação esteja tratada, Teresa fica num convento de Viseu. Leva
consigo tinteiro, papel e o maço das cartas de Simão. As suas últimas palavras,
dirigidas às irmãs de Baltasar, revelam orgulho e firmeza. Ao entrar no
mosteiro, sente-se livre, porque o seu coração está livre, mas em breve percebe
que está errada a respeito da vida monacal e que também ali reina a mentira e a
falsidade. No diálogo com as freiras, Teresa é confrontada com muitas intrigas,
percebendo que aquele não é um «exemplar viver» e que é tudo menos um «refúgio
da virtude». Antes de adormecer, Teresa escreve novamente a Simão.
Capítulo 8
Mariana
desmaia ao ver a ferida de Simão, deixando o pai surpreendido, uma vez que a
rapariga estava habituada a curativos. Torna-se a enfermeira de Simão. João da
Cruz conta ao filho do corregedor que Mariana não tem querido casar, apesar dos
vários pretendentes. Naquela casa, enquanto o ferreiro fala e a filha costura,
com o seu avental de linho, vê Simão «um quadro rústico», «sublime de
naturalidade».
Mariana
continua a pressentir para Simão uma desgraça e conta-lhe que teve um sonho em
que viu muito sangue e uma pessoa caída numa cova funda. Respondendo ao
ceticismo de Simão, diz-lhe que tudo o que sonha acontece. Quando sabe que
Teresa foi encerrada num convento, Mariana tem um assomo de alegria, que só um
«observador perspicaz veria». Na resposta, Simão revolta-se, condena a
submissão e promete tirar Teresa do convento.
João da Cruz
percebe que Simão está sem dinheiro. Mariana pensa numa forma de lho entregar
sem que Simão pudesse recusar. Este acaba por perceber que é amado pela filha
do ferreiro e sente-se bem com esse facto («no amor que nos dão é que nós
graduamos o que valemos na nossa consciência»), apesar de saber que não poderia
retribuir.
Capítulo 9
Simão
suspeita que Mariana o quer afastar de Teresa. Dando continuação ao que havia
combinado com a sua filha, João da Cruz, que tinha saído de casa, entrega
dinheiro a Simão, dizendo-lhe que tinha sido enviado por D. Rita. Mariana age
sem qualquer interesse, sabendo que Simão não lhe pertence. Teresa continua a
enviar cartas a Simão e fala-lhe da vida pouco virtuosa do convento.
As
diligências de Tadeu de Albuquerque chegam ao fim, e Teresa é enviada para o
convento de Monchique. Procura avisar Simão, mas a mendiga que lhe levava as
cartas é surpreendida. A informação chega a Simão porque a mendiga vai a casa
do ferrador e conta o sucedido. Dominado pela raiva, Simão quer dirigir-se ao
convento e libertar imediatamente Teresa. Mariana oferece-se para fazer chegar
uma carta de Simão a Teresa e sofre em silêncio a sua dor, vivendo «um obscuro
martírio».
Capítulo 10
Mariana leva
a carta ao convento onde se encontra Teresa. Nos seus pensamentos, sonha ser
amada como ela. Acabam por conversar as duas. Teresa deseja que Simão não faça
nada no momento da sua partida para o convento de Monchique, no Porto, porque
isso seria muito perigoso. Enquanto regressa a casa, Mariana pensa na beleza de
Teresa («linda como nunca vi outra!»). Simão ouve de Mariana o recado, mas
mantém a ideia de ver Teresa antes de esta partir para o Porto.
Na carta que
escreve, Simão considera Teresa perdida e dá a entender os seus intuitos quando
afirma que «o rancor sem vingança é um inferno». Quando Simão sai, de noite,
escuta as palavras de Mariana e sente que ela é o seu «anjo da guarda». Os dois
despedem-se como se fosse para sempre.
Simão chega
ao convento e aguarda pela madrugada, quando chega a comitiva que levaria
Teresa. Nessa comitiva está Baltasar. Teresa reafirma, perante o pai, a
intenção de entrar num convento. Troca algumas palavras com Baltasar, evidenciando
sentir por ele repugnância. Simão aparece e, depois de ofensas trocadas com
Baltasar, este aperta-lhe a garganta, morrendo em seguida com um tiro dado pelo
filho de Domingos Botelho. Depois do sucedido, surge João da Cruz, que pede a
Simão que fuja. Este recusa e, quando o meirinho-geral lhe quer proporcionar a
fuga, insiste em assumir as responsabilidades: «Fui eu.»
Capítulo 11
Os Botelhos
recebem a notícia da morte de um homem às mãos de Simão. Domingos Botelho toma
conhecimento da prisão do filho e pede ao juiz de fora que trate Simão como
qualquer outro criminoso, afirmando que não protege «assassinos por ciúmes» e
que desconhece aquele homem. A partir das palavras do juiz, fica a saber-se que
Simão afirmara ter matado o «algoz da mulher que amava» e negara tê-‑lo feito
em legítima defesa.
Simão é
alojado num dos melhores quartos do cárcere, mas «nu e desprovido do mínimo conforto».
Recebe o almoço que sua mãe enviou e uma carta desta, pela qual fica a saber
que o dinheiro que lhe fora dado era, afinal, do ferrador João da Cruz. Simão
recusa o almoço, e o criado que lho levara acredita na sua demência.
Mariana, em
lágrimas, visita Simão na cadeia. Este diz-lhe que não tem família e pede-lhe
que lhe compre uma banca, uma cadeira, tinteiro e papel. Simão fica a saber que
Teresa fora levada para o Porto depois de ter perdido os sentidos. Mariana diz
a Simão que será uma irmã para ele.
Capítulo 12
O corregedor
e a família partem de Viseu para Vila Real. Através da carta de uma das irmãs
de Simão (a que o narrador teve acesso e que fora escrita cinquenta e sete anos
depois do sucedido), sabe-se que Simão fora condenado a morrer na forca e que,
enquanto estava preso, teve a companhia da filha de um ferrador, que cuidava
dele «com abundância e limpeza». Sabe-se também que o pai de Simão se manteve
severamente inflexível e impediu que as cartas de D. Rita chegassem ao filho.
Aos que lhe pediam que intercedesse a favor de Simão, respondia que a forca era
para todos. Só decidira agir devido ao pedido desesperado de um membro da
família, António da Veiga («tio-avô muito velho e venerando», segundo dizia a
carta da irmã de Simão). No início de março de 1805, Simão é transferido para
as cadeias da Relação do Porto.
No dia do
julgamento, Simão assume o crime e reage com violência quando é pronunciado o
nome de Teresa Clementina de Albuquerque. Depois da sua condenação à forca,
Mariana, profundamente transtornada, é levada nos braços do seu pai. Entra
depois num delírio, pedindo que a matem. Simão chora depois de perceber o
quanto Mariana o ama («até ao extremo de morrer»). Devido à demência, Mariana
deixa de visitar Simão. Este, consciente de todo o sofrimento que causara, não
opta pelo suicídio por considerar a forca (a morte) um triunfo quando se age
por honra e por considerar cobardia escolher a morte quando não há esperança.
Capítulo XIII
Teresa parte
para o Porto com uma criada, Constança, que tivera por ela um «raio de piedade»
e que a informara sobre a prisão de Simão. Pede que a deixem fugir para se
despedir de Simão, mas a criada fá-la mudar de ideias. Chega ao convento de
Monchique, no Porto, sendo recebida pela sua tia, a abadessa. A esta conta
Teresa todos os acontecimentos e, juntas, leem as cartas de Simão. Sem forças
para a rebelião, começa a aceitar a morte. Por conselho da tia, deixa de
escrever a Simão.
Teresa vai
adoecendo, e os médicos julgam-na incurável. Ao saber disto, Tadeu de
Albuquerque pensa apenas na sua «honra», que quer deixar «imaculada». Quando sabe
que Simão havia sido condenado à morte, Teresa lamenta apenas o facto de ainda
estar viva. Numa carta que lhe escreve, considera-se sua esposa, diz-se pronta
a morrer com ele e pede-lhe que não tenha «saudades da vida».
Em diálogo
com o capelão, Teresa ainda tem forças para argumentar a favor da união das
«almas esposas» no Céu. Quando o seu estado piora, o pai decide tirá-la do
convento, para o que também contribui o facto de Simão ter sido transferido
para uma prisão no Porto. Antes de partir, Teresa recebe ainda uma carta do
condenado. Nesta, Simão pede-lhe que não morra porque ainda há esperança de uma
absolvição ou comutação da sentença e ele amá-la-á em toda a parte, mesmo no
degredo. Teresa sente a dor da contradição de estar perto da morte e ter
esperança.
Capítulo XIV
Tadeu de
Albuquerque chega ao convento com a intenção de levar Teresa para Viseu de modo
a afastá-la de Simão. Teresa recusa-se a sair do convento e diz que a morte reparará
todos os erros da sua vida. Acrescenta que só sairá do convento como «cadáver»
e que a morte será uma glória: «A minha glória neste longo martírio seria uma
forca levantada ao lado da do assassino.» A prelada informa que não tirará
Teresa à força, como deseja o pai, deixando-o dominado por uma «hedionda»
raiva.
Tadeu de
Albuquerque tenta, então, apelar às autoridades judiciais, sem sucesso. Vários
desembargadores parecem «inclinados à clemência» a respeito da situação de
Simão. Um deles, que fora amigo de D. Rita Preciosa, fala-lhe mesmo da
«grandeza» daquele «homem de dezoito anos» e critica Tadeu de Albuquerque por
não ter permitido que a sua filha amasse tal homem, de genealogia tão ilustre.
Capítulo XV
No dia 13 de
março de 1805, na cadeia do Porto, Simão tem perto de si as cartas de Teresa, o
que escrevera no cárcere de Viseu e o avental de Mariana. Aí escreve as suas
reflexões, quando é interrompido por João da Cruz, que lhe diz que Mariana
«voltou ao seu juízo». Simão pede-lhe que entregue uma carta no convento de
Monchique, o que vem a acontecer. Simão alegra-se com a certeza de que pode
voltar a corresponder-se com Teresa.
Informado de que
Mariana regressaria para o ajudar, Simão exprime a culpabilidade de se sentir
responsável pelo destino da filha do ferrador, considerando-‑a um «anjo de
caridade». João da Cruz conta-lhe uma história reveladora da «bravura da moça»
e, emocionado, revela saber a profunda paixão de Mariana por Simão.
Capítulo XVI
O narrador conta
um incidente que lhe ocorre, relacionado com Manuel Botelho, irmão de Simão.
Este tinha fugido para Espanha com uma amante, cujo marido era estudante em
Coimbra. Quando os recursos de D. Rita, que o sustentava, acabaram, pediu ao
filho que viesse para Vila Real. Manuel Botelho veio com a sua «dama».
Ao visitar Simão
na cadeia, é recebido com grande frieza. Simão nega esmolas, dizendo que só as
receberia de Mariana, que estava ao seu lado.
Nessa tarde,
Manuel é visitado pelo desembargador e pelo corregedor do crime. O
desembargador informa-o de que Simão será condenado a dez anos de degredo na
Índia. Acrescenta que a absolvição é impossível, uma vez que Simão confessa o
crime, descrevendo-o como um «doido desgraçado com sentimentos nobilíssimos». Sobre
Teresa, informa que recuperara a saúde. O desembargador e o corregedor partem
desconfiados, pensando que Manuel tem consigo uma mulher casada com quem fugira
(sua concubina) e não a irmã. Na carta que escreve a Domingos Botelho, o
corregedor relata o encontro.
Domingos Botelho
percebe o que sucedera e acaba por interferir. Manda a amante do filho
regressar aos Açores e condena o seu filho por ser um desertor. O narrador tece
comentários sobre as expectativas dos leitores, referindo o facto de existir,
no Frei Luís de Sousa, uma morte por
vergonha. Quando obtém o perdão, Manuel Botelho muda de regimento para Lisboa.
Capítulo XVII
João da Cruz
está em casa com a sua cunhada, Josefa, e sofre com as saudades de Mariana.
Decide, então, ir visitá-la ao Porto. No entanto, aparece um cavaleiro encapotado
que o mata devido a um crime antigo. O narrador tece considerações sobre as
incoerências da «índole» deste homem (em quem os «instintos sanguinários»
coexistiam com a «nobreza da alma»). Josefa escreve a Mariana para lhe dar a
notícia.
Mariana sofre,
temendo a demência. Simão trata-a como irmã e amiga da sua alma.
Capítulo XVIII
Mariana vai
a Viseu recolher a herança paterna. Vende as terras e deixa a casa a sua tia,
tomando a decisão de seguir Simão. Este não fica surpreendido, mas teme que Mariana
desconheça a dura realidade do degredo. A filha de João da Cruz diz nada temer:
«Verá como eu amanho a vida.» Simão diz que há de viver com o peso de se sentir
responsável pelo seu destino. Mariana responde-lhe dando a entender que o
acompanhará na morte. Simão repete que se sente infeliz por não poder fazer de
Mariana sua mulher, mas acaba por aceitar que ela o acompanhe.
Mariana
passa a sentir um «secreto júbilo», que preenche o seu coração. Este, sendo de
mulher, tem ciúmes de Teresa, ciúmes que eram «infernos surdos». Por vezes,
lamenta que Simão sofra por Teresa, mas nunca hesita quando se trata de ajudar
na comunicação entre os dois apaixonados.
Domingos
Botelho acaba por voltar a interceder pelo filho e consegue que a pena do
degredo seja alterada e Simão cumpra a sentença na prisão de Vila Real. Mas
Simão recusa, preferindo «a liberdade do degredo». A prisão é, para ele, «mais
atroz que a morte». O seu nome aparece, então, no catálogo dos degredados para
a Índia.
Capítulo XIX
O narrador
tece comentários sobre a relação entre a verdade e a ficção do romance.
Depois de
dezanove meses de prisão, Simão sonha com «um raio de sol». Já não tem ânsia de
amar. Para ele, os dez anos presos são piores do que o degredo. Teresa
tinha-lhe pedido que aceitasse esses dez anos, com a esperança de poderem
casar. Se Simão partisse para o degredo, ela perdê-lo-ia. Simão responde
dizendo que é preferível a morte: «Caminhemos ao encontro da morte.» A pátria e
a família merecem a sua abominação.
Na resposta,
Teresa despede-se, sabendo que o seu fim está próximo: «Vejo a aurora da paz.»
Simão deixa de falar, perturbando ainda mais Mariana, que permanece ao seu
lado.
Em março de
1807, Simão recebe uma intimação para partir na primeira embarcação que levantava
âncora do Douro para a Índia. Depois desta notícia, Simão começa a ter acessos
de loucura. Teme não ver Teresa e morrer longe dela, considerando-a uma
«mártir».
Capítulo XX
Em 17 de
março de 1807, Simão embarca no cais da Ribeira para a Índia. Mariana
acompanha-o. O dinheiro que sua mãe lhe enviara, Simão distribui-o pelos
companheiros de viagem, assumindo a sua dignidade «demente».
Antes de
partir, Simão contempla o convento de Monchique. Nele vê um vulto, o de Teresa.
Na véspera, despedira-se e ela enviara uma trança dos seus cabelos. Nesse mesmo
dia, à noite, Teresa despede-se de todas as freiras com um beijo. Na manhã
seguinte, lê todas as cartas de Simão. São elas «hinos à felicidade prevista».
Depois, emaça-as com fitas de seda dos raminhos de flores que Simão atirara
para o seu quarto. Compara a sua vida às pétalas das flores, quase todas
desfeitas, e entrega o maço de cartas à sua criada, Constança. Ora e aceita um
caldo «para a viagem». Pede depois à criada que a leve ao mirante, de onde vê
Simão.
No momento
em que Teresa o vê, Simão recebe as cartas que ela lhe fizera chegar. Quando o
navio parte, Simão ainda acena ao ver Teresa. Ela é já «um cadáver que saiu da
sepultura», desaparecendo pouco depois. Também Simão é já um morto: «como o
cadáver embalsamado». Mais tarde, depois de o navio ficar retido devido ao mau
tempo, Simão recebe a notícia dada pelo comandante: Teresa morrera. O
comandante comove-se perante a dor de Simão e a atrocidade do «quadro» e diz-lhe
quais foram as últimas palavras de Teresa: «Simão, adeus até à eternidade!»
Simão pede
ao comandante para proteger Mariana. Mas tanto ela como ele já «cismam» na
morte.
Conclusão
Simão lê a
última carta de Teresa, a carta de um espírito, da sua «esposa do Céu»: «É já o
meu espírito que te fala, Simão.» É uma carta de despedida profundamente triste, como o destino de ambos. Teresa diz-lhe que não
poderia viver e recorda a felicidade com que os dois sonharam nas cartas
trocadas, nos últimos três anos.
Depois da leitura, Simão adoece,
sofrendo com a febre, as ânsias e o delírio. Pede a Mariana que, se ele morrer
no mar, atire ao mar a correspondência e todos os seus papéis.
Em 27 de março, Mariana parece ter
envelhecido e Simão continua a delirar, atormentando-se com a recordação dos
seus sonhos de felicidade. No seu delírio, refere também a possibilidade de
Mariana o acompanhar no Céu: «ser-te-emos irmãos no Céu».
Simão morre e Mariana beija-o pela
primeira e última vez. Quando o corpo de Simão é lançado à água, Mariana
atira-se e braceja para se abraçar ao cadáver. Os homens que tentam salvar
Mariana recolhem a correspondência de Simão e Teresa, que estava «à flor da
água».
Na última linha do texto, encontra-se
a informação de que Manuel Botelho, irmão de Simão, é o pai do autor do livro.
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