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A identidade civilizacional da Europa Ocidental

Olá!

Hoje deixo-vos um resumo de História A - 10º ano

Poderes e Crenças – Multiplicidade e Unidade
1.1.1. A Multiplicidade de Poderes

Após a queda de Roma, a Europa Ocidental permaneceu muito tempo num período de instabilidade política. O poder fracionou-se em múltiplas células, que persistiu até ao século XIII, e consistia em: senhorios, principados, cidades independentes, reinos.
OS SENHORIOS
Senhorio: Território onde um senhor exercia poder sobre a terra, de que era proprietário e de cuja exploração cobrava rendas e serviços, e poder sobre os homens, a quem exigia impostos de natureza económica, jurisdicional e militar.
Senhorio era a terra de um senhor: de um nobre ou de um clérigo.
Õ senhorio era uma propriedade fundiária, cuja dimensão variava.
O senhor retirava, da posse da terra, rendimentos económicos, detinha autoridade sobre os homens que a habitavam, tendo o direito de julgar e aplicar penas, lançar impostos e outras taxas, levantar homens para o exército, Exercia, assim, um conjunto de poderes políticos, que o rei aceitava que fosse o senhor a exercê-lo. Este conjunto de poderes políticos recebeu o nome de “ban” ou “bannus”.
Este duplo poder do senhor – o domínio económico e a autoridade sobre os homens – é uma das características mais marcantes dos tempos medievais.
Os duques e condes constituíam os escalões superiores da nobreza medieval. Possuíam senhorios imensos, cuja extensão se ia alargando, devido a generosas doações régias e uma hábil política de casamentos. Estes senhorios englobavam, para além das terras agrícolas e aldeias, numerosas vilas e até importantes cidades.
REINOS
Reino: Estado ou nação cujo chefe político é um rei. Foi no decurso da Idade Média que se constituíram os reinos que estão na base dos actuais estados europeus. O processo de formação de reinos foi mais precoce na Europa Ocidental. Na Europa Central e Oriental este processo foi entravado por várias razões, tendo a autoridade real sentido dificuldade em se afirmar face ao poder dos grandes senhores.
A constituição de um reino estável implicava dois elementos essenciais:
  - o reconhecimento da superioridade de uma família, à  qual compete exercer a realeza, em regime hereditário. O rei detém sobre todos, independentemente da sua condição social, uma autoridade suprema, que deve utilizar para garantir o bem comum;
  - a delimitação de um território, que se constitui como base do ligação entre o rei e os seus súbditos. Qualquer homem que nasça no reino depende do rei. O critério que estabelece esta subordinação ao rei é territorial.
A constituição de um reino corresponde sempre a um processo de identificação entre um rei, um território e os seus habitantes. Este processo gera a convicção de que existem laços de tipo étnico, histórico, cultural e político que unem toda a comunidade.
No século XIII, na zona ocidental da Europa, os reinos constituem já unidades políticas estáveis/ reinos consolidados, como Portugal, Castela, Aragão, França e Inglaterra. Contrariamente no oriente o processo de formação de reinos dava ainda os primeiros passos, como os da Polónia, Hungria ou Bulgária.

O IMPÉRIO
No Natal do ano 800, o Papa coroou, em Roma, Carlos Magno, rei dos Francos, imperador do Ocidente, concretizando o sonho de reconstituição de um império universal e cristão. O seu império, de Carlos Magno, foi efémero, e, após a sua morte, não tardou a dividir-se, em 843, pelos seus 3 netos. Porém, o sonho imperial renasceu na pessoa de Otão I, rei da Alemanha (Germânia), que era na época o monarca mais poderoso do Ocidente. Era aliado ao Papa, do qual recebeu a coroa imperial.
A aliança entre o imperador e o papado, que englobava territórios germânicos e italianos, recebeu o nome de Sacro Império Romano-Germânico.
Este império concretizou o sonho de um domínio senhorial universal que impulsionou a sua criação. Na Europa ocidental, afirmavam-se reinos cada vez mais organizados e fortalecidos. Internamente, o poder imperial foi enfraquecido pelas constantes disputas entre o Papa e o imperador (que aspiravam ambos à direcção da Cristandade), bem como pela afirmação dos grandes senhores, que constituíam principados praticamente autónomos.
No século XIII, politicamente, o Sacro Império não era mais do que um conjunto de territórios governados por príncipes locais que escolhiam entre si um imperador, cujo cargo, embora honroso, não conferia um poder efectivo.
COMUNA
Comuna: Designava inicialmente a associação de habitantes de uma cidade que tinha por objectivo libertá-la da sujeição aos grandes senhores. Passou, depois, a designar a cidade que, na Idade Média, possuía uma total ou muito ampla autonomia administrativa. Iniciado no século XI, em Itália, o movimento comunal expande-se no decurso dos séculos XII, XIII e XIV.
A partir do século XI, beneficiando de um clima de paz e prosperidade, a cidade renasce e anima-se. Centros de comércio e de artesanato, habitadas por homens activos e cheios de iniciativa, as cidades aceitam mal o domínio que sobre elas exercem os grandes senhores.
O facto de se encontrar, geralmente, dentro dos limites de um senhorio fazia pesar sobre o burgo (cidade) e os habitantes pesados encargos, que eram sentidos como uma humilhação e abuso de poder. Por isso, desde cedo, as cidades exigiram a sua autonomia face aos grandes senhores.
O movimento de luta pela liberdade citadina começou logo no século XI, no Norte de Itália, onde nunca se perderam as tradições urbanas. Rapidamente ultrapassou os Alpes e estendeu-se em direcção ao norte. Encabeçado pelos mercadores, o grupo mais activo, mais rico e mais influente, obrigou à coesão de todos os habitantes da cidade, a um esforço comum, selado por um juramento solene de entreajuda e lealdade: a comuna.
É a comuna, associação de gentes da cidade, que apresenta ao senhor as reivindicações e, se o senhor resiste, luta por elas.
As lutas comunais estenderam-se a toda a Europa, dando origem a episódios violentos, como aconteceu nas cidades de Milão, Cambrai ou Colónia. Muitas vezes, porém, os privilégios urbanos foram adquiridos de forma pacífica, a troco de uma boa soma de dinheiro, que o senhor aceitou receber como compensação pela perda dos seus direitos.
De forma violenta e negociada, no século XII, boa parte dos burgos europeus recebeu a sua carta comunal, onde estavam exaradas as garantias e liberdades concedidas pelo senhor (ou pelo rei) à cidade.
As cartas comunais, que os burgueses guardavam ciosamente, fechadas em cofres de ferro, estipulavam estatutos e privilégios muito diferentes, conforme a cidade e os usos da região.
Foi sobretudo nas regiões da Alemanha e da Itália que as comunas conseguiram maiores privilégios administrativos, libertando-os totalmente da tutela dos senhores. Aí, algumas cidades reorganizaram-se em moldes completamente novos. Governava-as um conselho de burgueses e um corpo de magistrados próprio, aos quais competia a definição de normas, o lançamento e a cobrança de taxas, a aplicação da justiça, enfim, a regulação de todos os aspectos da vida urbana, com excepção dos religiosos. Estes altos cargos eram, regra geral, assumidos pelos mercadores mais ricos, que assim controlavam, em seu proveito, a vida económica e política da comuna.
Algumas destas cidades independentes, sobretudo as de Itália, prosperam extraordinariamente, assumindo um lugar destacado nos circuitos económicos europeus.
CONCLUINDO
- Ao contrário do tempo em que vivemos, caracterizado pela existência de Estados duráveis, com um poder central forte e bem estruturado, nos tempos medievais o poder político fragmentava-se em múltiplas células e revestia as mais variadas formas.
- As fronteiras externas eram, em geral, imprecisas e alteravam-se frequentemente, em consequência de anexações, guerras, acordos políticos, entre outros factores. O mesmo acontecia a nível interno: o desmembramento ou a aglutinação de senhorios, as liberdades conquistadas pelos núcleos urbanos, as usurpações senhoriais ou, invés, os progressos da autoridade real traçavam delimitações efémeras, de contornos mal definidos.
- Nesta Europa ainda em formação podemos identificar três grandes áreas politicamente distintas:
 *a oeste, afirmam-se as grandes monarquias (Inglaterra, França, Aragão, Castela, Portugal).
*no centro, sob a designação de Império, fica uma extensa área que agrupa um conglomerado de principados territoriais e de cidades autonómas;
*a leste, estende-se uma zona muito instável, de reinos embrionários, onde a autoridade real tem dificuldade em se afirmar face ao poder dos grandes senhores.


1.1.2. A Unidade da Crença
 Apesar do seu fraccionamento político, a Europa Ocidental assumia-se como um conjunto unido pela mesma Fé. A Igreja era a única instituição que ultrapassava fronteiras e se estendia, solidamente, por todos os países e regiões, contribuindo assim para a construção de uma identidade comum. Desta forma, a noção geográfica de Ocidente converteu-se numa realidade cultural, a Cristandade latina, conjunto de terras e povos cuja língua litúrgica era o latim e que, em matéria religiosa, obedecia ao bispo de Roma, o Papa.
 Entre os séculos XI e XIII, o espaço geográfico ocupado pela Cristandade ocidental alargou-se consideravelmente. A evangelização dos povos do Norte e Este da Europa (Noruega, Boémia, Polónia, Hungria) e os progresso da Reconquista na Península Ibérica incorporaram na zona cristã áreas até aí consideradas pagãs.

O PODER DO BISPO DE ROMA
Papado: o cargo, a dignidade do Papa. / O estabelecimento da supremacia do bispo de Roma – o Papa – sobre o restante clero e a Cristandade Ocidental foi um processo demorado e complexo que conduziu, em 1054, à divisão dos cristãos em católicos e ortodoxos. / No séc. XI foram dados 2 passos importantes para o reforço da dignidade do Papa no Ocidente: o estabelecimento da sua eleição por um colégio independente de cardeais (1075) e a publicação , por Gregório VII, do Dictatus Papae (1075) que proclamava a independência da Igreja relativamente aos laicos, a centralização dos poderes da instituição nas mãos do Papa, bem como a supremacia deste último sobre toda a Cristandade.

Embora, desde os primórdios do cristianismo, se tenha reconhecido ao bispo de Roma uma dignidade especial, a aceitação da sua supremacia sobre os outros bispos suscitou graves e prolongadas desavenças, que culminaram, no século XI, com o corte de relações entre o clero do Ocidente e o do Oriente.
 Foi, em grande parte, ao Papa Gregório VII (1075-1085) que ficou a dever-se a consolidação do poder da Igreja de Roma. A reforma empreendida por este Papa (reforma gregoriana) não só moralizou os costumes e a actuação dos clérigos como proclamou a supremacia absoluta do papado. Como máximo representante de Deus, o Papa considerou-se detentor do poder sobre a Cristandade que o colocava num plano superior ao de qualquer monarca, incluindo o imperador (do Sacro Império).
 Tal concepção originou, como era de esperar, numerosos conflitos entre o Papa, o imperador e os monarcas europeus, pouco dispostos a reconhecerem, em matéria política, a sua sujeição à Santa Sé.
 Estes diferendos não resultaram numa vitória total das pretensões do papado que acabou por se ver obrigado a reconhecer as prerrogativas dos monarcas, no seu território. Eles contribuíram, no entanto, para o reforço da autoridade e do prestígio da Igreja que, no século XIII é, sem dúvida, a instituição mais poderosa e organizada do Ocidente:
  - Tem um centro reconhecido, Roma, e um chefe supremo, o Papa.
  - Domina um vasto território vasto e vincula todos os seus habitantes.
  - Possui meios humanos e materiais. Um numeroso corpo de clérigos, bem organizado, representa-a junto dos fiéis; a cobrança de variadas taxas, das quais se destaca a dízima (um décimo de todas as colheitas), assegura-lhe riqueza, que se completa com extensas propriedades e generosas dádivas.
  - Rege-se por um código de leis próprias – o Direito Canónico – que individualiza os seus membros face à restante população.

A CRISNTANDADE OCIDENTAL FACE A BIZÂNCIO
 O Império Romano do Oriente teve uma vida longa. Só em 1453, sensivelmente mil anos após a queda de Roma, Constantinopla sucumbe ao poder do Império Turco.
 Este Império do Oriente, que normalmente designamos por Império Bizantino, considerava-se o herdeiro directo do mundo romano. assumia-se como um espaço civilizado, possuidor de uma cultura requintada, que considerava muito superior à dos «bárbaros» ocidentais.
 Constantinopla (ou Bizâncio), a «nova Roma» erguida pelo Imperador Constantino, era o símbolo do esplendor deste império e o seu centro religioso. A cidade deslumbrava, com as suas 500 Igrejas, entre as quais se destacava Santa Sofia, templo notável tanto pelas suas dimensões como pela sua riqueza decorativa. Aí, oficiava, em língua grega, o patriarca de Constantinopla, a figura mais reverenciada de todo o clero cristão do Oriente.
 A rivalidade entre os bispos de Roma e de Constantinopla sempre se fez sentir. Discordavam em alguns pormenores doutrinais (como os relativos ao dogma da Santíssima Trindade e à forma de comunhão), mas o que sobretudo os opunha era a recusa do patriarca bizantino em aceitar a supremacia romana. Em 1054, este litígio tornou-se numa ruptura efectiva: os legados do Papa e o Patriarca de Constantinopla excomungaram-se mutuamente.
 A partir de então, o cisma da Cristandade está consumado: a oriente, apoiada no Império Bizantino, existe uma Igreja de língua grega, que se proclama fiel aos seus primitivos dogmas e, por isso, se intitula ortodoxa, isto é, aquela que segue a «doutrina certa». A ocidente, apoiada no Sacro Império e nas monarquias em geral, existe uma Igreja latina, sob defesa de Roma.
Igreja Ortodoxa Grega: conjunto de Igrejas do Oriente que, no séc. XI, se separaram da Igreja de Roma, por considerarem que esta se desviava dos genuínos dogmas do cristianismo, definidos nos sete primeiros concílios. Daí a designação, que a si mesmo atribuíram, de ortodoxas («doutrina certa»). Os ortodoxos não reconheciam, como os católicos, a autoridade superior de qualquer bispo, embora o primado de honra pertencesse ao patriarca de Constantinopla. Para além deste ponto, separavam as duas Igrejas alguns aspectos doutrinais e litúrgicos, nomeadamente ao que toca ao dogma da Santíssima Trindade e à língua religiosa que, no Oriente, era o grego e, no Ocidente, o latim. Daí o nome de Igreja Grega dado à Igreja Ortodoxa.
 Esta grave cisão religiosa reflecte e agrava o fosso político e cultural entre as duas partes da Cristandade que, de aí em diante, se afrontam declaradamente.
 Em 1204, os cavaleiros da quarta cruzada, que haviam partido para o Oriente com a missão de combater o infiel muçulmano, tomam de assalto e saqueiam Constantinopla. Foram, decerto, motivados pela cobiça das  imensas riquezas da cidade.

A CRISTANDADE OCIDENTAL FACE AO ISLÃO
Islão: ou Islamismo, é uma religião monoteísta fundada por Maomet, na segunda década do séc. VII. O vocábulo “islão” significa, em árabe, «submissão total a Deus». Inicialmente, o termo foi pouco usado no sentido que tem hoje, já que os Árabes designam a sua religião por Muslen e por Mussulman crentes da mesma. / o termo islão tanto pode ser utilizado com um sentido estritamente religioso como para designar a comunidade islâmica, isto é, o mundo muçulmano em geral.
 Cerca do ano 610, Maomet, mercador e caravaneiro do deserto da Arábia, iniciou uma intensa actividade religiosa.
 Acreditava ter sido mandatado por Deus para tirar os Árabes da idolatria e conduzi-los à salvação. Uma noite, enquanto meditava na solidão do deserto, viu aparecer-lhe o anjo S. Gabriel, que lhe disse: «Maomet, tu és o profeta de Allah. Prega.».
 Desde então até à sua morte, em 632, Maomet dedicou-se por completo à glória de Allah (Deus, em árabe) e à difusão da sua palavra. Fundou, assim, uma nova religião – o Islão -, cujos princípios tinham-lhe sido confiados por S. Gabriel e constituíram a verdadeira revelação de Deus.
 No Alcorão, que contém orientações sobre todos os outros aspectos de vida dos crentes, estão definidos os cinco pilares do Islão: a crença num Deus único, Allah, e o reconhecimento de Maomet como seu profeta; a oração; a esmola; o jejum do Ramadão e a peregrinação a Meca.
 Mas, para além destes princípios, que devem ser integralmente respeitados, desde logo se estabeleceu o ideal da Jihad, a guerra santa, destinada a espalhar a Fé. Foi o próprio Maomet quem a iniciou, submetendo pelas armas as tribos árabes que perseveravam na idolatria.
 O legado de Maomet ultrapassou, em muito, o aspecto religioso. Os árabes, que até aí tinham vivido em tribos dispersas, tornaram-se num povo unido sob a bandeira de uma fé comum e dispuseram-se a conquistar o Mundo. Um século após a morte do Profeta, o Islão estendia-se por uma área imensa, que abarcava três continentes e uma grande multiplicidade de povos.
 Durante cerca de 4 séculos (do VIII ao início do século XII), a Cristandade apequenou-se face ao Islão. Este impôs o seu poder militar e apropriou-se do comércio mediterrâneo. Desenvolveu uma civilização próspera e requintada, onde brilhavam cidades magníficas (Bagdad, Córdova…) e onde as ciências, a poesia, a filosofia floresceram intensamente. Comparado com o mundo islâmico, o mundo cristão parecia pequeno, pobre e rude.
 Em 1095, a Cristandade deu um sinal claro de que as coisas estavam prestes a mudar. Atendendo ao apelo do Papa Urbano II, o Ocidente desencadeou a primeira de uma série de grandes ofensivas militares, conhecidas por Cruzadas. O seu objectivo era a libertação dos lugares Santos da Palestina, que se encontram sob o poder dos muçulmanos.
 Embora, a nível militar, o êxito das expedições tenha sido reduzido (os cristãos não conseguiram estabelecer um domínio duradouro na Palestina) o movimento das cruzadas fortaleceu a ideia de uma sociedade encabeçada por um ideal religioso, suficientemente forte para lutar, unida, contra os inimigos da Fé.
 Este impulso guerreiro ultrapassou as expedições à Terra Santa e fez-se sentir em todas as zonas de concorrência do mundo cristão com o mundo muçulmano: na Península Ibérica, a Reconquista avançou rapidamente; no Sul da Europa, diminuíram as razias muçulmanas às zonas costeiras; no Mediterrâneo, as embarcações cristãs fizeram valer os seus direitos, retomando rotas há muito abandonadas.
 No século XIII, a Europa Ocidental tinha, claramente, recuperado do seu abatimento face ao Islão. Seguir-se-iam tempos de uma rivalidade mais equilibrada, com avanços e recuos para ambas as partes. Mas, grosso modo, estavam já delimitadas as áreas de influência das duas religiões: o Ocidente era cristão; o Oriente muçulmano.

O quadro económico e demográfico – expansão e limites do crescimento
A expansão agrária e o crescimento demográfico

Depois de longos séculos de crise e instabilidade, a Europa reencontrou, de novo, a sua força e o seu espírito empreendedor. Entre o século XI e o século XIII, o Ocidente viveu um período de acentuada prosperidade económica.
Esta prosperidade atingiu, antes de mais, o mundo rural, saldando-se por um importante desenvolvimento agrícola.

O DESENVOLVIMENTO AGRÍCOLA

No ano mil, as florestas cobriam a Europa, ocupando uma enorme parte do solo, em detrimento da terra cultivada. No decurso dos três séculos seguintes, os homens desbravaram bosques, amanharam baldios e secaram pântanos, transformando-os em terras de lavoura.
 Estes grandes arroteamentos ficaram a dever-se à acção individual de muitos camponeses, mas, sobretudo, à iniciativa conjunta de reis, senhores, laicos, ordens monásticas (São Bento, Cluny, Cister) e até cidades. Eram, afinal, os que mais capacidade tinham para atrair os camponeses, fornecer as primeiras sementes, os instrumentos de trabalho, os materiais de construção.
 A expansão da área agrícola não só fez renascer antigas povoações abandonadas como originou a fundação de muitas outras. Este fenómeno, que se acentuou no século XIII, é ainda reconhecível no nome de numerosos aglomerados. No nosso país, não faltam «aldeias novas» e «vilas novas», datando muitas delas desta época.
 Para além da expansão da superfície cultivada, a agricultura beneficiou, também, de consideráveis avanços técnicos:
  - o emprego crescente do ferro nos utensílios agrícolas, nomeadamente na charrua, auxiliou o esforço dos cultivadores, permitindo abrir mais profundamente o solo e fixar melhor as sementes;
  - a canga frontal para os bois e a coelheira rígida para os cavalos possibilitaram um melhor aproveitamento da força animal;
  - o afolhamento com rotação trienal, que substituiu a tradicional divisão da terra em apenas duas folhas (uma lavrada e outra em pousio), permitiu granjear, cada ano, uma maior parcela de terreno;
  - a fertilização dos campos com marga (argila calcária) e  cinzas e a maior utilização de estrume animal melhorou a qualidade dos solos.

 Todos estes aspectos se traduziram por um aumento da produtividade agrícola que, acompanhado pelo incremento da pecuária, fez crescer significativamente as disponibilidades alimentares da Europa.

O CRESCIMENTO DEMOGRÁFICO
Nos tempos medievais, a abundância de alimentos reflecte-se, de imediato, no número de homens. Quando as grandes fomes recuaram, diminuíram também as epidemias porque, melhor alimentada, a população tornou-se mais resistente à doença.
Dispondo de bens essenciais, de um clima geral de paz e de um desenvolvimento económico em todos os sectores, a Europa viu, entre os séculos XI e XIII, a sua população prestes a duplicar. Na Europa tornou-se, no dizer dos historiadores, «um mundo cheio». De notar, no entanto, que a densidade populacional era, tal como hoje, muito variável. Embora seja difícil apresentar números exactos, sabemos que França era o país mais povoado. No início do século XIV, os seus 22 milhões de habitantes representavam cerca de um quarto da população europeia.


O renascimento das cidades e a dinamização das trocas
Para além do sector agrícola, a prosperidade fez-se sentir no comércio e no artesanato, que registaram, também, grande desenvolvimento

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